terça-feira, 13 de setembro de 2011

Até que o álbum os separe

Vagando pela redação da faculdade não pude deixar de notar que duas amigas estavam olhando entusiasmadas um site sobre noivas. De longe era possível perceber o brilho nos olhos, a baba quase que caindo pelo canto dos lábios por cada vestido visualizado. Estavam sedentas por aquela vestimenta longa e branca, assim como os homens ficam quando vê uma Ferrari toda vermelha na rua.

Não consegui me apegar aos detalhes, mas percebi que se tratava de um desejo fora do comum. Parecia que estavam escolhendo o vestido de suas formaturas e não do matrimonio. Mulher tem muito disso em relação a vestidos. Homem usa o mesmo terno em várias formaturas, casamentos, reuniões e palestras, às vezes alternando a cor da gravata.

Citei a pouco a palavra matrimonio. Talvez essa palavra nem venha na cabeça delas quando estão diante de véus e grinaldas. A união abençoada por Deus fica em segundo, talvez em terceiro ou quarto plano.

As mulheres não querem o matrimonio, elas querem se vestir de noiva. Querem subir ao altar, mas não de qualquer jeito. Tem que ser com O Vestido. O mais branco, o mais longo, o mais bordado, ou mais isso ou mais aquilo; o mais lindo na visão delas. Logo depois é que vem a cerimônia. E não pode ser qualquer cerimônia, tem que ser no nível da premiação do Oscar. Tapete vermelho e tudo mais.

Mas a festa de casamento não acaba no final da noite depois que todos já encheram suas panças e estão caindo pelas beiradas de tanta bebida. Logo depois vem o principal, que é o que eternizará aquele momento, o que glorificará para sempre em sua memória, mais do que a noite de núpcias. Pois é, se é que terá depois de um dia longo e exaustivo, recebendo tantos convidados, tantos abraços, tantos parabéns. O que fixará para sempre o principal episódio das suas vidas será o álbum de fotografias.

E um fotógrafo não basta, precisa ser um batalhão deles. Como nos aeroportos, quando ficam todos espremidos em poucos metros quadrados a espera de um astro do rock, um presidente da republica ou uma seleção de futebol após vencer uma Copa do Mundo.


Para a mulher, o álbum de fotografias do seu casamento tem que ser melhor que o próprio casamento. O marido não precisa ser lindo. A sogra pode ser gorda e o sogro um careca que usa bigode, mas as fotos terão que ser as mais lindas possíveis e em grande quantidade com inúmeras poses.

E o álbum não pode ser também qualquer caderninho de brochuras, tem que ser daqueles que vem dentro de uma caixa fechada gigante. No estilo dos livros sagrados das fábulas, amarrado por um cordão todo estilizado. Bem provável que o álbum seja mais caro que o Buffet.

Agora, para que tudo isso?

- Rá! Qual a graça de fazer uma mega festa e não registrar nada? Podem até contratar uma equipe de filmagem, mas quem terá paciência para ficar assistindo? Por isso que é preciso ter o álbum para mostrar para aquelas suas colegas de salão de beleza, de trabalho ou do condomínio e que, por algum motivo ou falta de grana mesmo para o presente, não foram à cerimônia.

E para aquelas que também presenciaram a cerimônia, amarguem mais uma vez o seu sucesso. Não basta ter sido um sucesso, é preciso ostentá-lo. É preciso arrancar suspiros das amigas tidos como encalhadas. Aquelas que chegam aos 30 e ouvem sempre que estão ficando para titia. Que se não casar até essa idade, homem nenhum mais irá querer.

Porque não basta dizer que a festa foi linda, é preciso matar a cobra e mostrar o álbum. Fui embora e as deixei sonhando acordadas com as fotos dos vestidos. Quem sabe eu esqueça o sonho de ser um escritor e vire fotógrafo.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Perdendo o que não se tem

Noite fria e chuva fina. Tarde demais para uns, cedo o bastante para outros e para quem vive a espera do momento de ser feliz não existe a hora certa. O oceano vira uma poça d'água na frente de casa.

Tudo fechado. Parecia que a cidade tinha sido inabitada de propósito para que pudéssemos andar tranquilamente. O destino éramos nós dois em qualquer lugar e o ambiente parecia estar à espera de um espetáculo, um momento único que não poderia ser interrompido pelo caos cosmopolita. 

Notei sua maquiagem, seu cabelo, o sorriso se abria e os olhos se fechavam. O perfume já não é o mesmo; Deus teve piedade, talvez não me segurasse. Muita coisa mudou.

Risadas foram conquistadas, um pouco de saudosismo e lembranças de um tempo que passou. O tempo não passou para ela. Mas o tempo foi injusto, que ao seu lado o relógio não teve pena e correu o quanto pode. O já vou indo foi interrompido pelo fica mais um pouco. 

Como um adolescente que não encontra palavras certas, como uma criança que não conhece tantas palavras, como um adulto que escolhe demais o que falar, como um idoso que já ouviu de tudo e lamenta por quase tudo. Apequenei-me com tua presença, com tua voz e o seu novo perfume. Um refém.

Um súdito que ouviu calado a sua rainha, um paciente quando ouve atentamente sua analista, um filho obediente que ouve sua mãe, o aluno dedicado ao ouvir a sua professora. Observei, gravei cada palavra, sendo que nenhuma com embargo na garganta. Fluiu naturalmente.

Mas os olhos também dizem, às vezes mais que a boca. Ainda tinha brilho lá dentro, pensei que fossem lágrimas, então esperei elas caírem. Nenhuma gota. Mas eu percebi, diziam algo diferente do que eu ouvia. Ficará bem guardado.

Fiquei a espera do abraço que timidamente foi negado, mas o brilho nos olhos ainda era possível ver. Estavam lá. Angústia, tristeza, raiva, ressentimento ou qualquer outra inquietação. Contei os passos até o portão. Foram quatorze. Daí para dentro eu já não sei mais nada. 



sábado, 3 de setembro de 2011

Elas são o poder



Tenho um velho costume de analisar as pessoas, principalmente as mulheres. Sou um curioso nato pelo universo feminino. Comecei a observar atentamente o comportamento delas depois que li pela primeira vez Dom Casmurro.

Acho que tinha uns 16 anos. Detestei profundamente a Capitu. Senti medo de que todas fossem como ela e um dia eu acabar virando um Bentinho.

Na segunda vez que li, já vi uma Capitu diferente. Aprendi a admirar seu poder. Comecei então a procurar vestígios da Capitu em cada mulher. 

Não foi difícil achar, pelo contrário, é possível ver de muito longe. Nem todas sabem que tem esse poder, mas quando descobrem usam sem piedade.


As que ainda não descobriram são as que estão sempre deprimidas, principalmente quando acabam um relacionamento.


- Meu Facebook parece um poço de lamentações. Acho que encarnam o espírito de sexo frágil.


Acho incrível como se comunicam entre si, como agem quando estão furiosas ou quando estão atrás de atenção. Homem quando busca atenção se passa por ridículo, acho porque todos temos o lado ogro dentro nós, uns demonstram mais.


Mulher quando quer atenção de alguém, consegue. Mas é nesse ponto que acho curioso. Parece um pouco clichê tocar no assunto que as mulheres vivem em função das outras mulheres. Na verdade é que o mundo todo vive em função delas.


Uma vez um professor me disse que o mundo gira em torno da vagina.


- Ri descomunalmente por muito tempo toda vez que me lembrava.


Mas ele explicou que tudo que almejamos, é para conseguir uma vagina. Carro, casa, roupas, perfume, poder, enfim, tudo. O homem precisa ser interessante de alguma forma.


- Tá, mas e as mulheres?


Elas também. Querem tudo isso, além de um homem bonito - às vezes nem tanto - um homem bem sucedido, um ótimo emprego ou um lar harmonioso para impressionar outras mulheres.


- Tá, mas elas querem a vagina das outras?


Não, seu tonto! Elas já possuem a delas. O que ele quis dizer é que o homem faz sua vida em função de uma ou mais mulheres, e as mulheres o mesmo. O homem, no caso, é apenas uma figuração dentro do cenário criado por elas.


- Tá, então quer dizer que não tem para onde fugir?


De forma alguma, pois quem nasceu para ser Bentinho, nunca chegará a José Mayer.